Otávio Augusto acabou de dizer que não quer mais namorar Celestina. Ela faz um gesto de assentimento e resignação, se levanta, caminha até a porta e sai.
Mais fácil que eu pensei, a frase surge na mente de Otávio, que logo começa a arrumar o apartamento – desloca-se com a cadeira de rodas até o banheiro e despeja o cinzeiro na privada, depois vai à cozinha e lava o cinzeiro e alguns copos.
Enquanto seca louça, Otávio ouve, da rua, Celestina chamando seu nome. Pensa, puta merda, e vai até a janela da sala.
Celestina está parada em frente ao posto de gasolina colado ao prédio. O posto está fechado e não há ninguém na rua além dela.
Otávio vê que ela segura uma garrafa de álcool e vê também quando ela risca um fósforo e joga o fósforo aceso no chão.
O posto começa a pegar fogo e Celestina olha para o ex-namorado e faz pra ele aquele gesto de insulto, uma das mãos fechada socando a palma da outra, top, top, top.
Celestina anda até o carro, dá partida e vai embora.
Otávio percebe que não há absolutamente nada que ele possa fazer – chamar os bombeiros, avisar os vizinhos, etc.
Ele avalia que a combustão de um litro de álcool não deve demorar muito. Talvez o posto exploda e mande tudo pelos ares. Talvez não.
Otávio se afasta da janela. Desloca-se até o meio da sala, recosta-se na cadeira e acomoda melhor a nuca. Cruza os braços e fica esperando.