sábado, 5 de dezembro de 2020

INTIMIDAÇÃO, Eduardo Haak

Estou sozinho numa casa que deve ter uns setecentos metros quadrados. Vim me esconder aqui por causa de uma mulher.

Primeiro ela disse que ia fazer macumba com terra de cemitério pra me matar, depois disse que estava procurando na deep web um matador de aluguel pra fazer o serviço.

A casa é de um amigo que passa a maior parte do tempo no Rio de Janeiro. Praticamente não saio dela, só saio de manhã pra correr um pouco no Parque Villa-Lobos. No restante do dia eu vejo uns filmes e leio uns livros.

Termino de almoçar e decido abrir a porta balcão de uma varanda, então o alarme antifurto da casa dispara. Não faço a menor ideia de como desligá-lo e penso que o alarme, com certeza, é desses que imediatamente acionam a polícia. Penso que se eu não conseguir localizar meu amigo no Rio, sim, emprestei a casa pra ele, serei tratado como suspeito de arrombamento, furto, etc.

Pego meu carro e vou até a agência de publicidade onde ela trabalha e fico esperando até que ela volte do almoço. Vejo-a finalmente vir caminhando, acompanhada de uma colega. Ando em sua direção e lhe dou um tapa no rosto. Ela cai e me olha com perplexidade.

Digo, macumba porra nenhuma, o.k.?, matador de aluguel porra nenhuma, o.k.?

A colega pega o celular e começa a filmar e eu digo, ótimo, é pra filmar mesmo, depois põe o título, como tratar uma mulher que tem o hábito de fazer ameaças de morte e intimidações.

Viro-me e vou caminhando na direção do carro, então Paola, que ainda está no chão, começa a chorar e diz, Mauro, me perdoa!, e eu giro o tronco e digo com a mão em concha ao redor da boca, perdoa é o caralho, e vá à merda, você.

A sensação que isso dá é muito boa, mandar à merda uma pessoa que merece isso, ir à merda.



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EXTENSÕES, um livro de Eduardo Haak

extensões (contos, ficção curta) eduardo haak, 2021 (Para navegar pelo livro, use as setas do canto superior esquerdo.)