sábado, 5 de dezembro de 2020

CAVALHEIRISMO, Eduardo Haak

Saímos da: casa noturna e: vamos andando até: o estacionamento.

Ela está me contando: a história de um sujeito que: quando soube que o pai estava com: Alzheimer: decidiu que iria torturá-lo: inventando: histórias humilhantes que: o pai: desmemoriado: suporia ser: verdadeiras.

O manobrista traz: o carro: e me sento no banco do: passageiro: e ela liga: o som: e põe o carro em: movimento. A música: que sai nos alto falantes: é um rock que tem uma: letra: que diz: não quero ser: útil: mas ser: utilizado. Ela: que está: dirigindo: pede para eu acender: um cigarro: e eu pego na bolsa dela: a caixa de cigarros e o: isqueiro: e acendo: o cigarro: e dou pra: ela.

Ela fuma e: acaricia: minha perna: enquanto dirige: e cruzamos várias: ruas: e entramos na avenida: paulista: e: imediatamente: vejo que há ali um congestionamento: anormal: e ela diz: putz: é blitz da lei: seca.

Digo pra: ela: vai: pula para cá: e ela diz: não: não precisa: e eu digo: vai: pula. Então ela diz: o.k.: e passa para: o banco do: passageiro: e eu assumo o: volante. Nós dois: bebemos: não muito: mas o suficiente para o: bafômetro: acusar. Como pela lei: do Brasil: ninguém é obrigado a produzir: provas contra: si mesmo: eu não assoprarei no: bafômetro: se for: parado. Mas: fazendo isso: terei minha carteira de: habilitação: suspensa: e levarei uma multa de: uns três mil: reais.

Os: carros: vão avançando pelo: afunilamento: feito com: cones: e passam por um: policial que: empunha: uma espingarda calibre: doze: então sou tomado por uma: sensação de: pânico: pois pressinto que serei: sim: parado: e que o: policial: notando em mim sinais: de embriaguez: me encaminhará a um: órgão competente: onde serei obrigado a: tirar uma amostra de: sangue: que indicará um nível alcoólico: que: definirá minha conduta ao: volante: como: criminosa: então eu serei: preso.

Lembro-me da vez: quando: uma ex-namorada: estava no meu: carro: portando cinquenta gramas de: haxixe: e surgiu uma: sirene: e a: sirene: começou: a se aproximar: e eu pensei: fodeu: aí a sirene passou por: mim: e seguiu adiante: e acabou: desaparecendo: e eu provei um: alívio: que nunca havia: provado. Lembro-me: de uma suspeita de: câncer de pele: e de uma: biópsia. Lembro-me: do ex: da minha então: namorada: que era obcecado por: ela: e que passou a me fazer: ameaças. O: medo: não é um bom: conselheiro.

Chega a vez do nosso: carro: passar pelo policial: empunhando a espingarda: calibre doze: e vou avançando: e noto que: minhas mãos: estão suadas: e que minha musculatura: abdominal: está completamente: retesada: e que parece que tem um: macaco hidráulico: fazendo pressão na minha: mandíbula: então atravessamos a fileira de: cones: e não: não somos parados: então: quando já estou a uma: distância segura: dou um soco na direção e digo: yeah: ponto de exclamação: e ela: ela: ela: põe a mão na minha perna: e sobe a mão até minha: virilha.

EXTENSÕES, um livro de Eduardo Haak

extensões (contos, ficção curta) eduardo haak, 2021 (Para navegar pelo livro, use as setas do canto superior esquerdo.)